terça-feira, 17 de novembro de 2009

Chuva

É tarde da noite, acabo de deixá-la em casa. Grande amiga e companheira, sua amizade não tem preço. Dou as costas e faço o meu caminho de volta. Ela entra no prédio.
A cada passo, a minha mente viaja. Penso na vida e tudo que acontece nela. As pessoas que cruzam o nosso caminho, a importância que cada uma tem em nossas vidas, as loucuras que acabamos fazendo as vezes e a grande luta que é travada dia após dia.
Tenho a sensação de estar sendo seguido. Olho para baixo e vejo uma sombra criada pelas luzes dos postes. Ela se aproxima! Eu me viro rapidamente para ver quem é... mas não é ninguem, apenas a minha própria sombra.
Sigo caminhando, mas a sensação apenas piora. A rua fica mais escura e as sombras começam a se fechar em minha direção. Um frio na espinha. Não estou sozinho!
Mas o destino novamente trapaceia ao meu favor e a chuva começa a cair, tão de repente e forte. Sinto as energias. "Seja bravo" é o que eu digo a mim mesmo. Começo a correr, nenhuma sombra pode me segurar, não durante a chuva. Meu espírito se liberta, corpo e mente em equilibrio, afasto as angustias da vida. A chuva cai mais forte. Luzes se aproximam. Não há mais preocupações, lamentos, medos. Ouço o cantar dos pneus, e a luz me toca. Meu corpo se torce contra o chão. Eu prossigo sem me importar. A corrida não pode parar. Os trovões rompem o silêncio ao sabor da água que cai.
Adentro a zona fechada, estou a salvo. Caminho ofegante e lentamente no meio da rua que desce. Ela está lá, bem na minha fente. Aquela garota dos olhos apertados ao estilo oriental. Baixinha, cabelos compridos e rosto de anjo. Ela me aguarda de pé na chuva. Paro em sua frente, ofegante, como o guerreiro que chegava do combate. Ela pega em minha mão e diz:

"Por que passa a vida correndo, quando o que mais te importa já ficou pra trás?"

A chuva acaba...

[Baseado em fatos reais]